Nasci com pressa.
Cresci embriagada.
Casei com a segurança.
Pari pra regredir.
Amadureci. E agora?
Tinha pressa de nascer pra quê?
Queria ver a luz ou fugir da escuridão?
Queria romper o cordão ou tentar roubá-lo?
Doeu crescer, então bebi pra anestesiar.
Queria anestesiar, mas acabei esquecendo.
Esqueci do que doeu, mas também das lembranças doces.
Um dia cansei de beber e me entregar inconsciente.
Encontrei um homem decente.
Cansada, casei. Me anestesiei, mas agora sóbria.
Sendo esposa, esperava-se menos de mim.
Uma parte minha cresceu, mas uma parte ficou na infância.
Uma parte minha queria um homem, mas outra queria um pai.
Queria ter um amor protetor, provedor, castrador.
Me pari. Pari mais dois pra garantir uma infância mais longa.
Até que cansei de casar. Cansei de parir. Cansei de fugir.
Assumi meu lugar, mesmo não sabendo bem onde ele está.
O fruto amadureceu, mas só sei podar, não sei colher.
Depois que colher, faço o quê? Como? Me lambuzo? Compartilho?
Amadureci e quero amar. Me amar.